quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Tinta!






DE quando em quando eu encontro comentários, textos, filmes, desenhos, músicas, ou seja lá o que for, que parecem ter vindo de encontro ao que eu estou sentido ou pensando.

Esta semana foi assim.

Não lembro onde, li uma frase do brilhante ilustrador Orlando, da Folha, em que ele dizia que toda essa coisa de Photoshop e computador é muito legal, mas já está na hora dos desenhistas voltarem a vivenciar a experiência da tinta no papel. Não de forma radical, sabe, mas como uma lembrança a nós mesmos de como foi que isso tudo começou.

Eu achei fantástico. Não aguentei e, ontem de noite, fiz uma busca a todas as tintas que eu tinha em casa, roubei muitas outras da Shellinha enquanto ela dormia, e me entreguei ao desconhecido, sem medo de se feliz. E a felicidade me tomou de uma forma que quase não consegui dormir de tão exitado que fiquei com a coisa. Pintei mil quadros durante os sonhos. Estes aqui foram durante a vida real, mesmo.

E agora, quem é que me segura?

Uma charge e seus desdobramentos...

Começando o ano com o pé direiro:
charge publicada na Revista da Semana de 21 de janeiro


Qualquer semelhança será mera coincidência, viu?


CRIAÇÃO é uma coisa maluca. Não raro, esta mesma situação acontece: faço uma charge e penso, "puxa, esta ficou demais!". Sabe qual a reação das pessoas? zero.
Daí, naqueles dias com dois milhões de trabalhos, tenho que fazer a charge do dia rapidamente, sem tempo para me aprofundar, ou mesmo num dia sem muita inspiração, aquele desenho mais para marcar tabela (ato horroroso, por sinal), vem a bomba: o respeitável público, sem mais nem menos, começa a te elogiar. "Puxa, Simon, está ficou demais. Parabéns". Eu, sem entender nada, dou uma rápida olhadela na bichinha, pra ver se é legal mesmo, e não tem jeito. É, na melhor das hipóteses, mais ou menos...
Com esta aqui foi assim. Não achei ruim, não. Mas também não achei nada de especial.
Primeiro, recebo elogios de algumas pessoas. Do patrão, inclusive. De repente, me ligam da Revista da Semana, da editora Abril: "Alô, Simon? estamos interessados em publicar a sua charge do dia tal na nossa seção de melhores da semana, Dá pra enviar o arquivo em alta resolução?". Uau, legal, mas... é essa mesmo, tem certeza? não quer ver umas outras? têm melhores, viu?
Bem, fiquei surpreso, mas muito feliz. Não é todo dia que a gente sai em uma revista de circulação nacional.
Não bastasse isso, dias depois, dando uma lida no blog da jornalista Luciana Pompo, encontro uma montagem bem fuleira do site www.perolaspoliticas.com . Adivinha, só: uma cópia escarrada da minha charge, mas em forma de montagem. Fui lá no site para conferir, e o autor, um tal de Lilo, postou no mesmo dia que eu publiquei na charge on line, mas um dia depois da publicação original, no www.jornale.com.br . Vai saber, né....
Conversando com meu camarada Julian Barg, que escreve textos fantásticos e os publica toda terça feira no blog http://www.absolutamente.ws/ , ele conta que acontece o mesmo com suas crônicas.
A magia da arte é assim, né? Não dá pra racionalizar muito não, pois quando menos se espera, boom!
Aí em cima, umas imagens para ilustrar a epopéia.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Do fundo do Baú

OLHA só que coisa: essa é uma daquelas ilustras que eu realmente gostei. Fiz para uma edição do jornal Farol do ano passado, em uma matéria sobre camisetas. Na última hora, a página acabou caindo e, com ela, a ilustra dançou. Fica o registro.

I me mine (II)

OK, para não deixar o post anterior desacompanhado, resolvi desenterrar esta entrevista que dei para umas gurias muito simpáticas do site http://www.fotosefatos.jor.br/ , a fotografa Prisila Farias e a jornalista Lálika Stadnik. O texto é de março do ano passado, mas... antes tarde do que nunca, né?


23/03/2007

Entrevista com Simon Taylor

Charge com atitude e comportamento

- Entrem gurias!

A voz que saía do interfone era acolhedora. Eu e a Priscila Farias, minha amiga fotógrafa nos olhamos e um misto de vários sentimentos passou pelo nosso semblante. Será que Simon Taylor é legal? Simpático? Engraçado?

Minutos antes, dentro do Inter II, eu e Priscila íamos matutando como seria a entrevista, até que o ônibus nos avisou para descermos.

Depois que pulamos, a aventura foi achar a casa. O calor e a subida se tornaram inimigos. Mesmo assim, a Rua Teffé quase não parecia Curitiba. Tranquila, casas bonitas, cenário de cidade do interior, quase nos fez acreditar que tinhamos sido transportadas para outra cidade. Quase não acreditamos que estavámos na famosa rua dos calçados de Curitiba.

A expectativa de entrevistar Simon Taylor era grande, afinal ele é um dos maiores chargistas do Paraná. Não foi a toa que conquistou quatro prêmios Sangue Bom na última premiação. Três na categoria Charge/Ilustração e um na categoria página Diagramada. O prêmio é um reconhecimento do Sindicato dos Jornalistas do Paraná aos profissinais atuantes.

Simon iniciou sua carreira em 1996 ano quando se tornou ilustrador do jornal “Folha da Imprensa”. No ano seguinte, 1997, foi trabalhar no Hora H onde permaneceu por 10 anos, entre idas e vindas. Em 2002 foi chargista do jornal “A Cidade” e da “Agência de Notícias Cone Sul”. Em 2005 foi selecionado para um trainee em jornalismo gráfico na Folha de S. Paulo. Apenas 10 de 600 candidatos foram aceitos no programa. Passou por três meses de treinamento. Também já participou de Salões de Humor (Pernambuco, Porto de Galinhas e Rio de Janeiro) além de exposições individuais na Gibiteca de Curitiba, SESC/Centro e Museu de Arte Contemporânea do Paraná. E ainda expõe suas charges na internet, no site Charge On Line um dos maiores do Brasil. E como não poderia deixar de ser é apaixonado pela música. É baixista e guitarrista. Toca em bandas desde os 13 anos.

Parecia que nos conhecíamos há tempos. Logo nos levou para seu escritório onde nos contou como é a vida de um chargista em Curitiba.

Como e quando você começou a desenhar?
Não me lembro de não ter desenhado. Parece que nasci segurando um lápis. Desde sempre eu acho. Minha mãe guarda meus desenhos até hoje. Ela tem uma caixa cheia de papéis com os meus primeiros desenhos.

Qual a influência dos os outros chargistas em seu trabalho?
Quando eu tinha 12 anos meu tio me deu um livro do Henfil. Quando eu olhei eu gostei na hora. Pensei “o cara é demais!”. Eu não gosto só da arte, gosto do artista. Tem artistas que eu gosto mais de saber sobre a vida do que sobre o trabalho. Dos que estão em atividade o Angeli ganha em disparado. Ele é o melhor. Acho que o Angeli já transcedeu essa coisa de chargista. Ele está num patamar acima. É um traço de uma particularidade muita artística, desenho dele tem muita personalidade. Mesmo que você esteja bêbado jogado em uma esquina e voa um pedaço de jornal velho dá pra reconhecer o desenho do Angeli. Mas por incrível que pareça eu cresci lendo quadrinhos de super herói. Foi o que me fez desenhar num primeiro momento. Então eu tenho uma influência muito grande dessa época de super heróis, como o Frank Miller. Acho que os quadrinhos podem ser classificados com o antes e depois do Frank Miller. Agora de chargistas nossos tem um monte que eu gosto, o Jean da Folha de S. Paulo. O Laerte é genial também, não faz nada político mas são cartoons excelentes. Eu gosto das charges que passem alguma coisa, que tenham atitude e comportamento.

Falando um pouco sobre o caráter humorístico da charge. Você acha que toda a charge tem que ser obrigatoriamente engraçada?
Eu não consigo imaginar um chargista ou humorista que faz charge que não quer que as pessoas achem graça. Acontece que o humor é uma coisa muito subjetiva. O que é engraçado pra mim não é necessariamente engraçado pra você. Mas eu acho que uma charge, antes do humor, tem que causar alguma coisa, porque a charge politíca ou a charge editorial é um desenho vivo, completo, ela não apóia num texto ou está sendo apoiada. Tem começo, meio e fim e quer te dizer algo. Isso é essencial. A charge tem que dizer algo por mais idiota que possa aparecer. A charge pra mim é uma coisa muito completa e rica, não é a toa que eles põe charges em questões no vestibular para interpretação. Uma charge bem feita pode ter milhões de significados.

Sobre suas charges politícas. Algum dia você recebeu algum tipo de represália de alguém?
Pessoalmente não. Acredite se quiser. Nós vivemos tempos tão bundões que hoje em dia é mais fácil ser processado por uma charge esportiva do que por uma charge politíca. Há 30 anos atrás, se você fizesse uma charge dizendo que deputado tal era corrupto ou suspeito de ganhar dinheiro ilicíto de alguma obra superfaturada você ia preso. Mas hoje em dia, veja essa mudança de ministério do governo. O Presidente está há quatro meses mudando aquilo, já virou uma coisa escancarada. Teve um tipo de charge que eu fiz no Hora H há uns dois anos atrás que eram imagens computadorizadas. Elas causaram bastante polêmica, mesmo não sendo feita com traços, a charge não precisa ser necessariamente desenhada, traçada. Essas charges eu sei que causavam muita repercussão. Nessa última eleição, o Osmar Dias entrou com uns 14 ou 15 processos contra o Hora H. Não me processou pessoalmente como chargista mas o jornal e o site. Ainda não tenho essa alegria de político ligar pra mim e ameaçar de morte. Infelizmente.

Você acha que há uma autocensura no seu trabalho?
Não é exatamente uma censura. É que não existe jornal politicamente correto ou incorreto. O que exite é um jornal pago por um lado ou pago por outro. Não é uma coisa ilegal isso é imoral. Você infelizmente depende disso. O dono do jornal ganha rios de dinheiro mas em compensação emprega um monte de gente. Eu me lembro quando eu tinha 12 anos, eu fui vizitar o Paixão e eu perguntei porque ele não fazia charges com os políticos do Paraná. Ele me respondeu: “Se eu fizesse charge com o pessoal daqui eu ia ter que ficar puxando o saco do pessoal, então eu prefiro não me envolver”. E anos depois isso aconteceu comigo. Eu trabalhava no Hora H, um jornal que é declaradamente apoiador do Requião. Se eu trabalhasse na Gazeta do Povo seria ao contrário, eles apoiam o Osmar Dias. O que muda de um pra outro? Um é mais decente que o outro? Eu não acho. O Hora H é menor, a Gazeta tem uma equipe maior e um compromisso com o chamado “jornalismo sério”. Eu não acho que exista um jornalismo imparcial. O meu espaço de charge é sagrado no jornal. Nunca entrou nenhuma idéia que eu não concordasse.

E projetos para o futuro?
Na verdade tenho 1002 projetos na minha cabeça maluca. Eu tenho muitas idéias boas mas falta o comercial. Como fazer para viabilizar porque tudo é caro. Por isso que a internet veio para revolucionar, mas ao mesmo tempo se o projeto passou pelo percalço financeiro, é impresso ele tem mais credibilidade. E na internet entra de tudo, desde o bom até o ruim.

TEXTO: LÁLIKA STADNIK
FOTO: PRISCILA FARIAS

I me mine (I)

WELL, para abrir os trabalhos do ano do senhor (Elvis, of course) de 2008, aqui vai o meu momento "sei que sou bonito e gostoso". Tratam-se de dois textos com a minha pessoa como tema. O deste post é um trabalho universitário do jornalista Guilherme Larsen, do Jornale, sobre este que vos escreve. O texto foi "capturado" do blog do também jornalista Alex Calderari. Para acessá-lo, basta clicar aqui: http://www.ideiaregistrada.blogspot.com/
No próximo post tem mais, tá compreendido?


Segunda-feira, Janeiro 07, 2008

Uma mistura de lápis, pincel e Beatles

...(Sobre o chargista curitibano Simon Taylor, por Guilherme Larsen, jornalista)

Como um grande fã dos garotos de Liverpool, Simon Taylor gosta de um visual estilo anos 60, com calças bocas de sino e camisetas mais antigas que a moda do século 21. De início, ele já revela seu lado "beatlemaníaco": "Queria gostar mais do John, mais seu coração prefere o Paul. Quando não é fantástico, é ridículo", revela, falando de si mesmo.
Aos 12 anos, Simon começou a se interessar por charges. Quando criança, colecionava gibis de super-heróis. Este mundo de ficção ainda está bem vivo dentro de Simon. "Ser chargista sempre foi parte do meu plano-mestre para conquistar a galáxia", brinca, quando perguntando do porque foi trabalhar com desenhos em jornal.
Simon diz que nunca pensou, quando jovem, qual carreira seguiria. Hoje, com 33 anos, ele afirma que simplesmente já era chargista. Assim como também já era viciado em música. Ele adora colecionar CDs, especialmente dos Beatles. Por muito tempo ele assinou uma coluna sobre cultura/música.
Violão foi o primeiro instrumento que aprendeu a tocar. Em seguida, a guitarra foi só um passo para chegar no contra-baixo e finalmente na voz. Já participou de inúmeras bandas. "Então, pouca coisa é mais importante do que música na minha vida", garante Simon.
Em sua definição, quando uma coisa é simplesmente para ser, não pode deixar de ser. E foi esse caminho que ele trilhou, no mundo das charges.
Várias redações já fizeram parte de seu cotidiano. Seu primeiro salário foi de R$ 200,00 no antigo jornal Folha da Imprensa. Hoje, ele brinca que não ganha muito mais do que isso. Nos últimos tempos sua agenda anda muito corrida. Além de chargista, ele também é diagramador, formado pelo jornal Folha de São Paulo. Várias publicações, como revistas e jornais impressos, tomam o tempo de Simon. E ele agradece por tanto serviço.
Na maioria de seus trabalhos, Simon procura a política, com consciência e conhecimento de causa. Em sua opinião, a leitura diária de jornais é fundamental para compreender o momento. Mas esse interesse pelos nossos "comandantes" não é à toa. Seu pai, que ele chama somente de Taylor, era ligado a movimentos políticos e sociais, chegando a ser candidato a vereador. Simon dá graças a Deus que o plano não se concretizou. "Por sorte, não embarcou nessa furada".
Na hora da leitura dos jornais, sites e afins, o cérebro de Simon faz uma espécie de milk-shake de humor, política, comportamento, crítica e história. "Boom. Ta lá a charge. Depois, a parte do desenho é conseqüência, mas nunca menos importante", explica.
O modernismo não faz muito a cabeça de Simon Taylor. Sua influência nos desenhos vem de cartunistas como Henfil, Ziraldo e Frank Miller. "Não gosto muito de Mangas e essas coisas muito moderninhas. Me parece muita técnica e repetição sem alma pra pouca arte", diz.
Os computadores fazem parte de sua vida, mas não por obrigação. Perguntado sobre sua preferência no estilo de desenhar, sua resposta é curta e breve: "Com certeza no papel". Sua explicação é que o lápis, pincel e caneta na mão geram traços específicos, coisa que a maquininha de fazer louco (como Simon chama o computador) não consegue. Ele também não dispensa o prazer de ter suas roupas sujas de tintas.
Como cada louco tem uma mania, com Simon não podia ser diferente. Uma de suas obsessões são as unhas. "Sou capaz de reconhecer 80% das pessoas que conheço apenas pelas unhas". No momento ele desenvolve uma nova técnica dentro de sua mania. "Já estou, inclusive, começando a analisar a personalidade de cada um pelo formato de unha e da mão. Vai entender..."
Simon procura sempre a tranqüilidade. Um de seus momentos preferidos é o banheiro. Esse lugar ele chama de "a última fronteira". "Lá eu deixo sempre uma pilha de livros, revistas e gibis e, em tempos de celular, MSN e Internet, é o único lugar que te respeitam, que te dão um tempo. Mas acho que não tardará muito a colocarem notebooks nos banheiros, aí o chefe vai te achar até nesta hora", brinca.
Neste ano, seu mundo ficou mais alegre e agitado. Sua filha, Alice, nasceu. O "sorrizinho" dela tem alegrado a vida do casal Simon e Kelly - que ele só consegue chamar de Shellinha.
Para completar o estilo Simon Taylor, a manhã é seu período preferido do dia. Seus desenhos, de preferência aqueles que irão durar mais do que um dia, são feitos nesse horário. E o momento da sacada, daquela grande sacada com certeza o entusiasma.

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Caro Guilherme, muito obrigado pelo texto, fiquei muito envaidecido. Obrigado também ao Alex pela publicação!

A lá Mouse


DA SÉRIE: "Uma idéia na cabeça e um mouse (e o bom e velho Photoshop, é claro...) na mão".

Ficou legal, né? Acho que assim que eu tomar vergonha na cara e comprar uma tablet esse lance vai ficar ainda melhor.